GAROTAS GAMERS E A DESIGUALDADE DE GÊNERO NOS E-SPORTS

Crescimento exponencial dos streamers e atletas contradiz realidade vivida por garotas nos jogos 

FOTO: Divulgação

O mundo dos games está se expandindo a cada dia. em plena época onde a televisão foi trocada pelas lives streamings, realizados em diversos meios digitais como: Facebook, YouTube e Twitch. 

E quem faz parte dessa mudança são jovens jogadores e atletas profissionais extremamente bem pagos que através de empresas que os patrocinam, ganham a vida competindo em torneios ao redor do mundo representando nosso país. O cenário é perfeito e não há erros visíveis, correto? Não em sua totalidade. De acordo com pesquisa realizada pela Game Brasil 2019, as mulheres representam 53% dos gamers do país. Esse percentual cresce de maneira exuberante se analisarmos a vertente de jogar casualmente. Ainda assim, a presença feminina nas plataformas de streaming e campeonatos de jogos é, apesar de um crescimento atual, demasiadamente pequena. 

Parte dessa ausência feminina tem como fator a exclusão diante de tanto machismo, as mulheres desistem de competir, ou simplesmente se divertir, jogando videogame. “Eu fiquei parada por 4 anos por causa de haters (pessoas que postam comentários de ódio ou crítica sem muito critério), só após esse tempo eu voltei. A gente lida como pode, é muito chato, é horrível. A gente sabe que o cenário hoje não é o ideal.” Relata a blogueira Nayara Dornelas, 25, hoje dona do site intitulado YOUGOGIRLS, criado após a designer carioca perceber o quanto era difícil encontrar informações sobre times femininos em campeonatos de E-Sports (torneios de jogos eletrônicos), jogadoras profissionais e notícias diversas relacionadas ao mundo feminino na área dos games. 

Durante sua passagem pela BGS 2019 (Brasil Game Show) Nayara ainda relatou um pouco mais sobre o mundo das garotas gamers e os “RAGES” (situações onde a jogadora se irrita a ponto de abandonar o jogo por um curto, ou longo período) sofridos pelas meninas ao longo das gameplays

JOGADORA CASUAL

Já a jogadora amadora Amanda Nunes, 21, apenas joga vídeo game casualmente e também enxerga um mundo restrito aos homens quando o assunto é games. “Já fui muito subestimada por ser mulher e os homens não acreditarem que eu jogo bem” diz Amanda, ainda apresentando o cenário atual, visto pelos seus olhos. “Conheço pouquíssimas mulheres que jogam, buscando na minha memória vem apenas duas. Obviamente estamos no caminho, mas tudo está muito longe da perfeição. Creio que o cinema também pode influenciar nisso, pois apenas temos histórias com protagonistas homens. Pode ser que isso, por muitas vezes, reflita nos jogos também”. 

Podemos perceber que, não importa o ambiente, qualquer mulher, por algum momento, casualmente ou profissionalmente, já enfrentou situações constrangedoras ou vergonhosas.  

FALTA DE PROTAGONISMO E APRESENTAÇÃO OBJETIFICADA 

Tal situação não acontece apenas graças ao preconceito por causa dos homens através das partidas. As mulheres também sofrem devido a maneira sexuada que são retratadas as personagens em jogos como, por exemplo, Mortal Kombat (game de luta), onde as personagens femininas sempre vestem roupas curtas, com o intuito de atrair os olhos masculinos de outra maneira. 

A forma sexuada como as mulheres são retratadas nos jogos é tema pouco discutido,  a famosa jogadora profissional de League of Legends, “Poulie”, argumenta sobre este tópico. Além dos jogos, nossa convidada também faz parte do SAKURA SPORTS, iniciativa voltada às garotas que, devido a situações constrangedoras, abandonam o sonho de ser uma jogadora profissional. 

Paula “Poulie” Monteiro/imagem cedida de arquivo pessoal

“Na maioria dos jogos, a mulher é retratada de forma mais sensual, e isso acaba sendo ruim pois as pessoas vêem a mulher como um objeto e sim, sofremos com a falta de histórias de mulheres que são protagonistas”. Poulie ainda  enaltece o ano de 2019, visando a chegada de grandes conquistas dentro do cenário feminino no mundo dos games e incentivando as mulheres a não desistir de seus objetivos, “acho que estamos no caminho certo, a gente já está no final do ano de 2019 e já aconteceu bastante coisa para o cenário feminino. Se você mulher, gosta de games, quer ingressar neste mundo, apenas vá. Não deixe o medo impedir que você alcance seus sonhos”, completa. 

MAS E O PSICOLÓGICO? 

Procurando saber um pouco mais sobre os efeitos causados na mente de uma garota que sofre represálias durante seu trabalho ou de maneira casual, conversamos com o psicólogo Daniel Arifa, que nos apresenta o quanto é perigoso se excluir de um ambiente que, a priori, se trata de algo feito para relaxar ou trabalhar. 

“Dependendo da situação e/ou exclusão, a pessoa pode desenvolver um quadro de depressão, baixa auto estima, ou até mesmo ficar confusa quanto a sua própria vida, pois ela busca lazer ou profissão dentro do âmbito que ela mais admira e acaba sofrendo represálias”, diz Daniel. 

Daniel ainda continua abordando a questão do preconceito através da cultura e, como que a mesma influência o pensamento masculino em relação às garotas gamers, “o preconceito pode ser desenvolvido de várias formas, e tudo que está atrelado a cultura pode influenciar as pessoas, pode acontecer de homens acreditarem que isso (videogames), não faz parte do mundo feminino.” Ainda explicando sobre o preconceito nos jogos e suas vertentes, Daniel remete a inexistência dessa disparidade entre homens e mulheres nos games. “Se trata de um mundo muito novo, e em algum momento houve certo grau de atrelamento que os jogos, são ligados apenas ao público masculino. Na prática isso nunca existiu, existem diversos tipos de jogos e todos tem acesso, e este preconceito ficou muito mais influenciado pelo atrelamento social, as pessoas começaram a enxergar este mundo, como algo inteiramente masculino.” 

EM BUSCA DE IGUALDADE 

FOTO: Divulgação

Um teste feito recentemente nos apresentou a realidade dos jogos online, o #MyGameMyName, realizado pela Wonder Woman Tech, ONG sem fins lucrativos fundado por mulheres para destacar principalmente outras mulheres nas áreas de tecnologia, artes, ciência e matemática, convidou diversos Youtubers, jogadores homens, para vivenciar na pele o que as garotas enfrentam, usando nomes femininos. Vamos deixar o link aqui para você conferir o excelente trabalho realizado pela ONG. 

Após assistirmos, refletimos e pensamos o quão importante é esta luta em prol da igualdade e direito das mulheres. Dentre campeonatos, eventos e streams, pouco se faz a mudança necessária para se consolidar a tão sonhada igualdade entre homens e mulheres nos games. Reconhecimento e aceitação vem com o tempo, muitas transformações já ocorreram e a hora da mudança já chegou. 

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